Nos últimos anos, a fabricação de pranchas de surf passou por uma verdadeira revolução com a chegada das máquinas de usinagem com tecnologia CNC associadas ao uso de softwares de design de pranchas como o shape3D. Essa nova tecnologia transformou profundamente o processo, trazendo uma série de mudanças radicais na forma com que fábricas do mundo todo passaram a produzir os nossos tão queridos foguetes.
Uma das novidades mais impactantes ocorreu na etapa inicial do processo, onde o shaper trabalha no desenvolvimento do design, estudando todas as variáveis hidrodinâmicas para alcançar uma determinada performance com a prancha. Com a utilização do shape3D, a grande mudança aqui foi que os shapers passaram a ser capazes de identificar e controlar o volume das pranchas.
O domínio dessa variável proporcionou aos shapers, por exemplo, uma maior facilidade para alterar a distribuição do volume ao longo de diferentes pontos da prancha, sem perder a visão do volume total e entendendo com mais clareza qual seria o resultado de uma alteração específica. Esse novo tipo de possibilidade impulsionou o desenvolvimento dos mais variados designs e alterou muito a dinâmica do trabalho na hora de projetar uma prancha.
A partir disso, surgiram as tabelas de volume, indicando a litragem recomendada para o surfista de acordo com seu peso, preparo físico e nível técnico, dentre outros fatores. Essas tabelas são muito boas e sem dúvidas ajudam bastante os shapers e os surfistas, reduzindo consideravelmente as chances de erro na hora de escolher o novo foguete.
Porém, como nem tudo são flores, a popularização do volume também trouxe alguns problemas, dentre eles a noção equivocada de que a litragem é uma medida milagrosa e soberana sobre as demais variáveis da prancha.
Infelizmente, hoje há uma supervalorização dessa medida, onde as pessoas tem uma obsessão louca de cravar a construção da prancha no “volume ideal” e uma suposta habilidade digna de super-heróis de perceber variações da litragem com precisão de duas casas decimais.
Como todo excesso passa a ser nocivo, resolvi escrever um pouco sobre as 6 verdades que quase ninguém acaba falando (e sabendo) e que, na minha opinião, podem estar atrapalhando você na escolha da próxima prancha mágica.
Verdade #1 - Você não precisa cravar o volume
Vejo muitos surfistas dando um número extremamente específico quando o assunto é volume: “Eu só uso 27,5 litros!”. Essa exatidão chega a ser cômica. A pessoa está tão vidrada nesse número que realmente acha que uma prancha de 27 litros vai ter pouco volume, ou que uma de 28 litros é “um barco”. No entanto, a verdade é que na prática essa diferença é tão pequena que nem mesmo um atleta profissional teria condições de perceber a variação dentro d’água. Numa prancha de 27,5 litros, esses 0,5 representa 1,81% do volume total! Uma boa noite de sono ou a quantidade de comida que ingeriu antes do surf vão influenciar mais que essa variação.
Tenha em mente que o volume recomendado é apenas uma referência. Variações de 10% pra cima ou pra baixo podem ser muito positivas para a sua performance dependendo da situação. Exemplos: alguns modelos são projetados para serem usados com mais volume em ondas mais fracas; se você estiver em um lugar frio você deve considerar o peso de uma roupa de borracha; em ondas mais perfeitas normalmente não é necessário tanto volume na prancha...
Além do seu peso, vários outros fatores podem influenciar na escolha do volume: nível de habilidade, experiência no surf, preparo físico, idade, objetivo com a prancha, tamanho do mar, formação da onda, roupa de borracha, tempo dentro da água etc. Converse com seu shaper, ele saberá te orientar para que você usufrua ao máximo do potencial máximo daquele modelo.
Verdade #2 - As medidas que você quer não necessariamente vão resultar no volume que você está esperando
Apenas para fins de explicação e colocando de uma maneira extremamente simplificada, imagine uma fórmula matemática. De um lado estão tamanho, espessura e largura da prancha. Do outro lado está o volume.
A primeira coisa que você precisa entender é que essa fórmula muda de acordo com o modelo da prancha. As variáveis são as mesmas, mas a relação entre elas é diferente dependendo das curvas do design. Cada prancha tem suas características especificas de bico, rabeta, curva de rocker, wide point, caimento de borda, concave etc.
Por exemplo: no modelo A, digamos que você altere a largura em 1 polegada e, como consequência, o volume altera 1 litro. Isso não necessariamente é verdade para o modelo B, onde essa mesma 1 polegada de largura pode representar 2 litros.
Entendido isso, agora voltamos ao ponto principal: é matematicamente impossível você fornecer todas as medidas da prancha e esperar que o volume resultante seja exatamente o que você queria. Dizemos isso porque sempre tem um espertinho que manda: “Vou te falar logo o volume que eu quero e você encaixa nessas medidas aí...”. Não vai cravar, não adianta.
E não me entenda errado: é claro que você pode informar seu volume desejável e também ALGUMAS das outras medidas. Mas não todas. Nesse caso, o que vai acontecer é que vamos fazer a conta inversa, mexendo na estrutura daquela fórmula (simplificada) que usamos acima, passando o volume para o lado das variáveis e avaliando como vai ficar largura e espessura, por exemplo. O que não dá é para deixar tudo de um lado e um limbo do outro.
Verdade #3 - Prancha com mais volume não é, necessariamente, prancha mais presa
Esse é um dos equívocos mais comuns que vemos por aí. O simples fato de uma prancha apresentar uma maior ocupação no espaço (que é o conceito de volume), não significa necessariamente que ela será menos manobrável.
Colocando de uma forma bem menos técnica: é perfeitamente possível que a sua prancha “mais fininha”, “mais estreitinha”, “mais foguetinho” seja bem mais presa do que aquela batatinha que você menospreza.
Pelo bem da humanidade, vamos entender isso de uma vez por todas: existem diversos fatores que influenciam na manobrabilidade das pranchas como, por exemplo: curva de rocker, outline, posicionamento das quilhas, tipo e formato das quilhas, caimento de borda, altura da borda, largura do bico, largura da rabeta, concaves etc.
A sua prancha é um sistema complexo. O que determina se ela vai ser mais rápida ou mais lenta, mais solta ou mais presa, é a combinação de todos esses fatores.
Verdade #4 - Volume é fundamental para remada mas existem outros fatores tão importantes quanto.
Se não acredita em mim, faça o teste você mesmo! Compare duas pranchas com o mesmo volume, porém com designs diferentes: uma high performance (rocker elevado, bico estreito) e uma fish (rocker baixo, mais volume na área do bico). A diferença é gritante.
Para alcançar o mesmo poder de remada nas duas pranchas, você teria que colocar alguns litros a mais na pranchinha performance, e mesmo assim talvez não seja suficiente. Corre o risco de não resolver seu problema de remada, apenas aumentar a litragem da prancha prejudicando outros fatores.
Verdade #5 - Foguetinho high performance não necessariamente vai te fazer surfar melhor
Vamos pegar um exemplo conhecido: as pranchas do Filipe Toledo ou do Gabriel Medina. Para projetar as pranchas desses surfistas totalmente fora da curva, os shapers consideraram o condicionamento físico sobre-humano que esses caras apresentam, além do nível técnico inacreditável para manobrar e colocar velocidade na prancha. Essas pranchas estão disponíveis para qualquer pessoa comprar, mas a menos que você realmente seja um fenômeno do surf, elas não são apropriadas para você. Cuidado com as jogadas de marketing do tipo “surfe com a mesma prancha do bicampeão mundial”, como se isso fosse algo bom para a sua evolução.
É claro que esse é um caso extremo, mas ele serve para ilustrar o ponto realmente importante aqui: sem perceber, talvez você esteja sendo influenciado pelo surf alheio e incorrendo num erro comum de achar que a prancha que funciona para uma pessoa vai funcionar para outra. Em especial, vemos muita gente insistindo em pranchas high performance porque estão vendo outros surfistas quebrando com elas, como se isso automaticamente fosse melhorar a sua própria evolução técnica. Mas no final das contas só acaba em frustração.
Verdade #6 - Você precisa de mais volume do que pensa (alguém precisava te falar isso)
Ao longo dos anos, venho observando tanto em surfistas de fim de semana como até mesmo em profissionais uma relação peso x volume totalmente desproporcional entre surfistas muito leves e surfistas pesados. Explico: é extremamente comum ver surfistas que pesam em torno de 65kg usando pranchas de 26 litros e surfistas com 85kg usando 30 litros. Com uma simples regra de 3 a gente percebe que o surfista mais leve está usando muito mais volume para o seu peso do que o surfista mais pesado. Se fossemos seguir a mesma proporção, o surfista mais pesado deveria estar usando aprox. 34 litros!
Não é à toa que geralmente os surfistas mais leves evoluem mais rápido. Eles pegam mais onda, aguentam passar mais tempo na água e “atolam” menos nas ondas mais fracas. Basta acompanhar um pouco o tour pra ver que alguns atletas profissionais já estão usando litragens mais altas e designs com tendências híbridas nas suas pranchas. Estamos falando dos melhores surfistas do planeta!
Mas então por qual o motivo os surfistas mais pesados sempre ficam meio prejudicados nessa relação peso x volume? Seria medo de exagerar na litragem? Seria um preconceito com pranchas acima de 30 litros? Seria um receio de dizerem por aí que você com um “barco”?
"Foam is your friend. Don't be scared of it. A little bit of extra foam here and there is good for the soul, and your surfing." Rob Machado
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